Filme Fonte da Vida

Filme Fonte Da Vida

Fonte da Vida é um instigante título de filme porque nos deixa curiosos em saber qual será o seu elixir fundamental.

Fonte da Vida

Fonte Da Vida
Fonte Da Vida

Estamos a todo o momento procurando nossas fontes. Muitos as encontram em desejos obscuros, por vezes paranóicos, outros em desejos superficiais ou libidinosos. Assim por diante, nas mais diversas possibilidades.

Consideramos esta fonte da vida, geralmente, como sendo fruto dos desejos intrínsecos que nascem de nossos seres. E quando nos damos conta, aquele desejo se tornou ou já era a própria fonte da vida.

A verdadeira fonte da vida? Qual será exatamente esta fonte da vida que achamos que seja a verdadeira “ fonte da vida” e aquela tratada no filme?

Muitos podem achar estranho um filme com esse título e que do começo ao fim não deixa de falar na morte. Além de termos várias narrativas que se entrecruzam, com os mesmos atores assumindo vários personagens que são os mesmos (ou não?).

Fica difícil de se justificar, pelo menos esse é o julgamento da maior parte da crítica. Vamos por partes.

O filme começa com o ator Hugh Jackman (que faz Tomas, Tommy, Tom Creo) numa bolha invisível viajando pelo espaço em direção a Shibalba, uma nebulosa que está morrendo, e que segundo os Maias, (civilização que se extinguiu invadidos pelos Toltecas 900 anos antes de Cristo) é onde os espíritos renascem, tudo renasce.

Logo, em sequência este mesmo ator aparece na Espanha em tempos remotos, lutando para encontrar uma árvore que é a fonte da vida. Assim também diz na Bíblia, no Gênesis 1:11.

Romance e drama

Romance E Drama
Romance E Drama

E quando este ator, que é um grande soldado, mandado da Rainha, chamado por ela de O Conquistador, luta para descobrir esta árvore, que por sinal dará ao povo da Espanha a imortalidade, morre. Este mesmo ator reaparece num laboratório, casado com a mesma atriz (Rachel Weiz ) que fez a rainha, mas agora se chamando Iz.

Iz tem tumor no cérebro, vai morrer. Hugh , agora não mais soldado, e sim marido, é um cientista que tenta descobrir a causa da cura do tumor. Utiliza macacos doentes em suas experiências.

E assim, estas três histórias vão se entrecruzando. O sentido das três narrativas vistas pelo panorama, ou seja o ponto de vista do ator Hugh , é o mesmo: o objetivo ulterior é a preservação da vida. Pelo menos aquilo que conhecemos como vida.

A primeira narrativa mostra Hugh flutuando em uma bolha que lhe dará vida eterna, somente com o essencial a se viver. A segunda narrativa mostra Hugh lutando para conseguir a imortalidade mágica para todas as pessoas da Espanha, e salvá-las assim do Inquisidor que julga a sociedade dizendo que o corpo do homem é pecador, somente sua alma é livre, e para isso este crápula diz que a libertação se dá num ascetismo radical, sádico.

E a terceira narrativa mostra de novo Hugh digladiando-se desesperadamente para descobrir a cura da doença da sua mulher porque não consegue imaginar vida sem ela.

Vida e a morte

Vida E A Morte
Vida E A Morte

A história das três é a do cientista com a Iz. Desta, as outras se derivam. A história da Espanha só existe porque faz parte de um livro que Iz está escrevendo que se chama The Fountain, que conta a história desta árvore da vida, da nebulosa de Shibalba.

E subseqüentemente, a história do homem da bolha viajando no espaço só existe por causa do tema tratado neste livro, partindo do que os Maias acreditavam. Todas estas narrativas podem se passar em dois níveis. Primeiro, elas estariam todas no nível da imaginação, da consciência, portanto, as três épocas distintas são a mesma.

Segundo, seriam vários renascimentos. Deixamos de lado esta segunda hipótese porque este pode ser um território incrédulo. O que importa é que tanto se verificarmos o primeiro caminho, como o segundo, o objetivo permanece o mesmo, apesar de suas formas mudarem.

E qual é este objetivo que permeia a todos? Este objetivo em comum no sentido último, limite, é a Preservação da Vida. Aí entra o outro personagem, a Iz. Ela quando está vivendo com o cientista fala que não tem medo da morte e não tem porque ter medo dela.

Assim, ela aparece para Hugh em três situações diferentes dizendo a mesma coisa. No plano da realidade, pedindo para ele deixar um pouco de lado as pesquisas científicas, já que em breve ela vai morrer inevitavelmente pedindo que ele a acompanhe mais em caminhadas românticas pela neve.

Amor incondicional

Amor Incondicional
Amor Incondicional

Como rainha ela pede para ele ir atrás de uma árvore que dará a imortalidade para ambos, mas que na verdade o transformará em flores e frutos para a natureza e às beneficências ao povo Espanhol, deixando de ser aquilo que ele conhece como o conquistador.

Ela está querendo dizer que a vida é este transformar-se altruísta, para não ter medo e ficar apegado ao próprio Eu. Como aparição na bolha espacial ela o diz: Termine. Ele pensa que é para terminar a história do livro que ela pediu em vida. E diz com medo, raiva que não sabe como terminar. Este termine que Iz diz é, tanto no livro como na própria vida, saiba morrer, saiba viver.

Iz morre no momento que ele descobre a cura da doença dela. O desespero vem à tona. O último momento é chegado. É como se fosse a sua própria vida que se esvai. Há uma força maior intocável. Esta força pertence aos mistérios.

E Hugh agora se encontra sozinho. Sozinho como cientista, como conquistador e como espírito em busca de Shibalba. Não tem mais sentido buscar a imortalidade para a sua amada, ela já se foi.

Trama e aventura

Trama E Aventura
Trama E Aventura

Neste momento, quando está na bolha espacial a árvore da vida começa a morrer, aquela que alimentava o seu espírito apenas com pequenas raspas de seu néctar. Ele grita completamente apavorado, quando aparece sua mulher, Iz, pedindo para ele “Terminar”. Ele a manda embora, falando que não aguenta mais, que está com medo e que não sabe como terminar.

Ele está tão perdido, encharcado cegamente em seus sentimentos que parece não a reconhecer, sendo ríspido com ela. Iz, um ser que podemos dizer, perpassou todos estes universos de Hugh para ensiná-lo justamente o que é esta fonte da vida, num momento de compaixão pelas dificuldades de seu companheiro coloca a mão na sua cabeça.

Este pequeno instante é suficiente para ele se levantar e falar para ela que sabe como terminar o livro, que sabe que vai morrer. A partir deste momento ele tem uma sensação plena. Quando reconhece que vai morrer, libera instantaneamente sua mulher e todos aqueles desejos que considerava como sendo a fonte da vida.

Percebe que seus desejos, mesmo sendo tão nobres e embasados no amor, estavam impedindo aquilo que fazia parte do próprio processo da vida, a morte, as mortes. E que os seus desejos estavam voltados para si mesmo, e para as pessoas que faziam parte de si mesmo.

Amor e ódio

Amor e ódio
Amor e ódio

E que isto era possível até um determinado limite, após certa margem, dever-se-ia transcender e deixar ir, deixar acontecer, não se apegar. O amor é libertador e permite qualquer coisa. O amor é revelador. O amor deve ser a própria realidade em movimento impermanente.

Neste momento ele passa por processos da morte nas três histórias. E quando entende isto, torna-se um mestre impenetrável. O verdadeiro conhecimento foi-lhe aderido ao ser, caminha rumo a Shibalba, a luz fonte da vida onde a morte se apresentará, gerando uma infindável série de outras vidas.

Voltou para sua vida como cientista, após esta jornada transcendental e pode enterrar, se despedir de sua mulher já morta há algum tempo.

Enfim, o filme mostra a trajetória de um homem que tem uma missão a ultrapassar. Esta missão é confrontar-se com a fonte da vida. Mas esta fonte da vida é justamente o oposto do que comumente imaginamos.

Temos um instinto de preservação muito forte e principalmente, não queremos perder. A morte é inevitável e se apresenta como sendo aquele objeto que faz com que voltemos nossos sentidos para a própria vida.

A morte como consolo final

A Morte Como Consolo Final
A Morte Como Consolo Final

A morte faz com que reflitamos se aqueles desejos que perseguimos em nossas vidas, são realmente essenciais. Acaso a morte nos proporciona reflexões e revelações de vontades invertidas, contaminadas, centradas num Eu egocêntrico.

Esta é a verdadeira fonte da vida, o alinhamento a uma realidade harmônica, que é como é. Mesmo que num primeiro momento alguns pensem que é um caos absurdo. Esta realidade define atitudes que não possuem saídas, a não ser a sua conformação a ela.

Esta realidade é a Força Mor do Universo. Ao contrário, a não conformação nesta realidade, ela própria como já sendo, já estando aí desde sempre como uma Força Fundamentadora do Mundo, mostra aos seres, nem que de maneira ardida as suas intempéries, e que o desvio de seu fluxo é uma tentativa nossa, nula, e principalmente, geradora de sofrimento.

Não conseguiremos vencer a realidade. E nem é o caso de vencer. O caso é saber viver. Saber morrer. E saber morrer para saber viver. Pois esta morte não está somente lá, no fim de nossas vidas, mas em cada momento, em cada situação.

Por isso, este aprendizado de deixar, saber terminar, continuar, são direções de ordem reais, e que nos protegem de criar causas e condições em nossos espíritos desagradáveis e inúteis de inquietude, tormenta. Para encontrar a fonte da vida é necessário passar por este processo.

Perde-se muito tempo neste redemoinho em busca daquilo que chamamos de vida, até que percebemos que a vida não estava ali, e sim nossos enganos e desejos corrompidos. Neste perder há muita lamentação por causa das perdas, e depois que esta se esvai em absoluto, estamos preparados para realmente perder, para realmente morrer, e aí sim, a verdadeira fonte da vida se apresenta.

A equanimidade se apresenta, a paz, amor, compaixão, eliminação de todo o sofrimento, os bardos se apresentam, mas isto é uma outra e mesma história (específica) que mesmo não contada, já está contada.

Então, principalmente, procuremos nossas fontes da vida. Porventura, são as mesmas para todos nós, para todos os seres, nem que de cores e formas diferentes.

Claudio gomes

Multiverso Comicon – Sou um grande fã de obras de quadrinhos nacionais.

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