Ó, Pai, Ó
Confesso que entrei na época na sala do cinema cedo porque estava fugindo do calor e em busca do ar condicionado, mas a intenção era assistir o filme Ó, Pai, Ó.
Mas não me arrependi. Quando me dei conta estava completamente envolvido na história, nas interpretações, no ritmo ágil e divertido, deste que é o terceiro e melhor filme de Monique Gardenberg.
E olhe que não conheço mal a Bahia e não sou muito familiarizado com a “baianidade”, mas o filme me lembrou como referências aquelas comédias italianas dos anos 50, dos Irmãos De Fillipo, passadas em cortiços em Nápoles, onde todo mundo gritava com todo mundo, sempre com raízes sociais.
Ó, Pai, Ó
Mas sempre engraçado. E também as fitas dos anos 60 que Roberto Pires e mesmo Alex Viany fizeram cruzando várias histórias em Salvador. E finalmente as chanchadas nacionais em que todos se preparavam para o Carnaval e tinham problemas com a dona da pensão (na época Violeta Ferraz ou Maria Vidal ou Zezé Macedo) com a novidade que ela agora é evangélica embora faça sua fezinha nos búzios.
Inspirado em peça teatral de Marcio Meirelles e aproveitando intérpretes do grupo Teatral do Oludum, a baiana Monique conseguiu realizar seu filme mais livre, mais pessoal, mais bem sucedido.
Que no fundo também é musical, já que é muito ajudado pela excelente trilha musical de Caetano Veloso e David França (onde se descobre também as qualidades vocais de Lázaro Ramos).
Musical e comédia
A história se passa no bairro do Pelourinho, onde num antigo cortiço uma mulher evangélica perturba a vida de seus inquilinos todos muito liberais, um mecânico, um travesti, uma mãe de santo, uma enfermeira que cuida de crianças sem pai (e recebe a visita da irmã que mora no exterior aparentemente se prostituindo), uma mulher grávida com marido chofer de táxi que tem caso com o travesti e assim por diante.
São vários personagens (tem ainda um bar perto dirigido por uma lésbica e com uma garçonete recém chegada que vai se engraça com Lázaro, alias a garota Emmanuelle se parece bastante com a diretora). Tudo isso é mostrado com muita vibração porque acontece durante menos de 24 horas, na última noite do Carnaval sendo interrompido por canções que tanto podem estar em off quanto cantadas pelos atores.
Tem um charme sendo justamente ser vivo, alegre, humano, muitíssimo bem interpretado. Desde os Tempos de Dona Flor não se via uma história baiana com tanto sabor, tipos originais (Wagner Moura compõe um deles) e um elenco feminino deslumbrante que infelizmente, a gente não consegue guardar o nome (com exceção da única não baiana que é a cada vez melhor Dira Paes).
Mas o show é mesmo de Lázaro Ramos, que consegue ainda revelar novas facetas e versatilidade. Super ator que levanta um filme que pode ser prejudicado por seu péssimo pôster e pelo titulo esquisito (que é uma expressão baiana que não se traduz bem num letreiro!).
Referência do filme
Ó, Pai, Ó. Brasil, 2007. Direção de Monique Gardenberg. Com Lázaro Ramos, Dira Paes, Wagner Moura, 96 min. 14 anos. Emmanuelle Araújo, Érico Brás, Edvana Carvalho, Stênio Garcia, Rejane Maia, Gustavo Mello, Virginia Rodrigues, Auristella Sá. Tatau.
Multiverso Comicon – Sou um grande fã de obras de quadrinhos nacionais.